

Opacidade marca caminho para novas eleições na Venezuela
Uma lista de candidatos pouco divulgada, um site inativo e a ausência de um cronograma: as eleições regionais e parlamentares de 25 de maio na Venezuela estão marcadas pela opacidade e o eco da questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro.
Após denúncias de fraude nas presidenciais de 28 de julho, a oposição está dividida: María Corina Machado e a principal coalizão de partidos opositores pedem o boicote do novo pleito, ao considerá-lo como uma "farsa", enquanto Henrique Capriles, candidato presidencial em duas ocasiões, pede uma votação como "ato de resistência".
Especialistas consideram que as eleições foram organizadas na "clandestinidade", à medida que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não divulgou os resultados detalhados das presidenciais.
A entidade eleitoral alega que o ataque cibernético maciço impediu a publicação de um escrutínio de cada mesa, como exigido pela lei. O site está inativo há meses.
A oposição liderada por Machado publicou em uma página da internet as atas que reivindicam a vitória de seu candidato, o exilado Edmundo González Urrutia.
A eleição presidencial "não se encerrou", disse à AFP o cientista político e especialista em eleições Jesús Castellanos. "A partir desse momento (...), a falta de informação tem sido muito grave. Fere os direitos dos (eleitores) venezuelanos e dos partidos que pretendem participar", acrescenta.
O novo pleito estava previsto para 27 de abril, mas foi remarcado para 25 de maio para "promover a participação".
O cronograma nunca foi divulgado e detalhes parciais foram revelados por reitores de órgãos eleitorais ou líderes chavistas e da oposição até 21 de abril, quando o CNE informou no Telegram sobre o registro de 54 partidos e 6.687 candidatos sem publicar listas.
Por fim, as candidaturas foram informadas em 6 de maio em um site divulgado no Telegram.
- "Recorde mundial" -
São 569 vagas a serem preenchidas, incluindo 285 deputados para o Parlamento e 24 governadores regionais.
Pela primeira vez, espera-se a eleição de autoridades para Essequibo, um território rico em petróleo e recursos naturais que a Venezuela reivindica da vizinha Guiana. A lista eleitoral ainda não foi anunciada.
"Peço que façam uma campanha verdadeiramente edificante, que crie valores democráticos, que estimule a participação", pediu Maduro no início da campanha.
Nos 25 anos do chavismo no governo, "realizamos 31 eleições constitucionais, vencemos 29 (...) agora vamos para 25 de maio para o que será um recorde mundial", acrescentou.
Entre as candidaturas está a de Capriles, para a vaga de deputado, após a suspensão repentina de uma inabilitação política de 15 anos imposta a ele em 2017. Segundo a oposição, este tipo de medida é uma arma usada pelo chavismo para tirar os adversários do caminho.
A anulação de sua inabilitação foi "surpreendente", diz Capriles, embora os opositores afirmem que ele negociou.
O candidato promove um movimento que pede a participação nas eleições, a rede Decide, embora apoie as alegações de fraude contra Maduro. "Até as pedras sabem que Edmundo González ganhou aqui", afirmou.
Machado argumenta que o governo está tentando "virar a página" das eleições presidenciais.
A reeleição de Maduro é desconhecida pelos Estados Unidos e por vários países da América Latina e da Europa.
- "Luto eleitoral" -
"Nossa estratégia é construir um amplo movimento sociopolítico capaz de continuar encurralando" a "autocracia fechada que enfrentamos hoje", disse à AFP Jesús Torrealba, coordenador do Decide.
O "menos importante" é "a opacidade das informações" e "o mais grave" é o "luto eleitoral" após as eleições presidenciais, afirmou ele, que também é candidato a deputado.
Os protestos pós-eleitorais deixaram 28 mortos e cerca de 2.400 presos, dos quais cerca de 1.900 foram libertados.
Os analistas têm dúvidas sobre o alcance da oposição.
"A possibilidade de que esses grupos opositores tenham uma representação significativa na próxima Assembleia Nacional (Parlamento) é muito baixa, se não inexistente", argumenta Eugenio Martínez, jornalista especializado em eleições.
H.al-Zayani--BT